quarta-feira, 28 de junho de 2006

Vida, aventura ousada...


"Aqueles que passam por nós,
não vão sós, não nos deixam sós.
Deixam um pouco de si,
levam um pouco de nós."

Antoine de Saint-Exupéry


Tantas vezes as palavras do Saint-Exupéry me ajudaram a dizer aquelas coisas para as quais não encontrava palavras... Como agora. Já pensaram que a vida tem muito pouco de só nosso? Já pensaram que a minha vida é também, muito, a vossa vida? Nasci e cresci em lugares, envolto em ideias, coisas que não eram minhas, não foram criadas por mim... No meio de tradições e pessoas que me marcaram e fizeram de mim a pessoa que sou hoje e que podia muito bem ser outra se as condições anteriores fossem diferentes... E não chegava a ser nada se nada disto estivesse presente. Isso nem se discute. E a vida tem muito pouco de minha, no sentido em que não consigo vê-la sem os outros... Não foi criada por mim, nem para mim... E sei que me foi entregue para ser passada, dada, gasta, partilhada... e que só nisso se aumenta, e que sem isso não se realiza como vida. A vida joga sempre com muitas pessoas!
Por isso, vocês também estão de Parabéns.
Porque, quando o dom recebido se torna dom oferecido, a vida deixa de ser minha para ser NOSSA.

terça-feira, 4 de abril de 2006

O segredo



Existem, na minha vida, duas pessoas que, cada uma à sua maneira e até inesperadamente, me ensinam muito sobre a vida. Vou chamar-lhes Ana e Miguel.
A Ana e o Miguel têm cancro.
E por que é que estou a contar esta história no meu blog? Porque estas duas pessoas são extraordinárias na forma como enfrentam a sua doença... Aceitam-na, lutam contra ela sem se culparem ou sem se perguntarem que mal terão feito a Deus e fazendo dessa doença uma possibilidade de crescerem interiormente e de tornarem possível que os outros à sua volta também cresçam.
Eu não tenho pena da Ana e do Miguel... E ainda bem que eles também não querem que tenham pena deles. Porque ter pena é quase como desistir...
Gosto de os comparar com as árvores... se olharmos uma árvore sem mais, vemos o tronco, os ramos, as folhas e os frutos se os tiver... Com as estações essas partes visíveis sofrem alterações e por vezes apresentam-se nús, secos, como se no devir do tempo se fossem deteriorando gradualmente... Mas as árvores são muito mais do que isso... Porque fincam as raízes profundamente na terra de onde lhes vem o alimento e daí retiram o necessário para, na estação seguinte, o nú, o seco, o aparentemente morto, dar lugar ao esplendor das folhas, das flores, do fruto e da vida que brota da árvore e que ela permite que aconteça no ecossistema à sua volta. As árvores são, afinal, muito mais complexas...
A Ana e o Miguel são assim. Sabem onde devem firmar a sua raiz, sabem sobre que rocha é preciso construir a sua casa e permanecem firmes nisso.
Porque sabem que a vida é mais forte do que a morte.