segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Ingénuo

ingénuo achava poético
perseguir o horizonte
agora doem-me os pés
já não corro mais atrás de ti

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Sétima morada

É este o título do filme que vi ontem à noite. Um filme belíssimo, que conta uma história belíssima: a da Santa Teresa Benedita da Cruz, conhecida como Edith Stein.

É uma mulher invulgar. Muito invulgar... Basta pensarmos que é uma judia, professora de filosofia, que a dada altura da sua vida se converte ao catolicismo e leva o encontro com Jesus a tal grau de radicalidade que, em plena guerra mundial, quando a sua família lutava pela sobrevivência, resolve entregar-se toda nas mãos de Deus e ingressa no Carmelo de Colónia, na Alemanha, a terra natal que prometeu não deixar.
Santa Teresa de Ávila é a sua grande inspiração, a cruz é o seu estandarte. Com isso, consegue superar todas as críticas, acusações e dificuldades e empenha-se no árduo caminho através das "sete moradas" de Santa Teresa. A última, a sétima, é o encontro definitivo da alma com Deus. Teresa não foge desse momento, antes o aceita antecipadamente...
É bonito este filme aparecer por acaso quando eu estou a terminar de ler o Diário da Etty Hilesum, uma outra judia que também morreu num campo de concentração e que, também ela, faz um extraordinário caminho de encontro com Deus pouco antes de morrer. Estas são mulheres que morreram a acreditar que ninguém nos pode tirar a vida se formos nós os primeiros a dá-la. Nisso, dão um testemunho fantástico, não de resignação, mas de entrega nas mãos daquele que é o verdadeiro senhor da vida.
A Etty diz, a certa altura, no seu diário algo muito bonito: "Muita gente me acusa de indiferença e de passividade e diz que me rendo de mão beijada. e dizem: 'Cada pessoa que consiga escapar às garras deles deve tentar fazê-lo e é uma obrigação.' E o esquisito é o seguinte: eu não tenho nada a sensação de estar presa nas garras deles... não sinto que esteja nas garras de ninguém, só sinto estar nos braços de Deus."

Dá que pensar...

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Um pouco de Nambuangongo

Amigos, deixo-vos um pouco de Nambuangongo... É uma pequena selecção. Porque as imagens ainda falam mais do que as palavras...


Com mais tempo e depois de toda esta experiência assentar um pouco, prometo que haverá mais para ler aqui no meu blog.

É um álbum com uma certa interacção. Podem arrastar e clicar duas vezes em cada foto para verem num tamanho maior.

Vejam aqui.


sexta-feira, 25 de julho de 2008

Nambuangongo, outra vez!



«É Deus, que é amor, quem conduz a Igreja rumo às fronteiras da humanidade e quem chama os evangelizadores a beberem "da fonte primeira e originária que é Jesus Cristo, de cujo Coração trespassado brota o amor de Deus". Somente deste manancial se podem haurir a atenção, a ternura, a compaixão, o acolhimento, a disponibilidade e o interesse pelos problemas das pessoas, assim como aquelas outras virtudes necessárias para que os mensageiros do Evangelho deixem tudo e se dediquem completa e incondicionalmente a difundir no mundo o perfume da caridade de Cristo.» Papa Bento XVI na sua mensagem para o Dia Missionário Mundial 2008.


África mais uma vez! Parto para Angola no dia 29 de Julho para mais uma missão. e levo comigo estas palavras do Santo Padre que, tão bem, expressam as minhas motivações... O que poderia eu fazer, o que poderia eu levar? Nunca, por mais que esgotasse as minhas forças, conseguiria resolver todos os problemas desta gente que vou encontrar...
Há um projecto maior. Um projecto que pode não matar a fome física, que pode não trazer conhecimento académico, que pode não curar todas as doenças... Mas um projecto que joga com a vida num outro patamar. Um projecto de VIDA EM ABUNDÂNCIA. Uma Vida que se adentra na eternidade e relativiza e descobre o sentido das nossas limitações e dificuldades.
Não podemos alimentar equívocos acerca da rocha onde fundamos um projecto assim... Não podemos perder-nos em ilusões de um heroísmo vão... Tudo passa... Tudo o que não carrega a chama do Eterno passa...
...só o nome de Deus permanece.

Tuala Kumoxi!
(estamos juntos)

terça-feira, 1 de julho de 2008

Íntimo


«Dentro de mim há um poço muito fundo. E lá dentro está Deus. Às vezes consigo lá chegar. Mas acontece mais frequentemente haver pedras e cascalho no poço, e aí Deus está soterrado. Então é preciso desenterrá-lo. Imagino que há pessoas que rezam com os olhos apontados ao céu. Esses procuram Deus fora de si. Há igualmente pessoas que curvam profundamente a cabeça e a escondem nas mãos, penso que essas procuram Deus dentro de si.» 


Este texto é um excerto do Diário de Etty Hillesum, uma rapariga judia que aprendeu a ajoelhar, que experimentou a morte nos campos de concentração, uma rapariga que já adivinhava essa morte com muita antecedência. Este diário é o testemunho de que é possível encontrar um sentido e viver abundantemente quando em tudo e em todos à nossa volta vemos já espelhado o rosto inevitável da morte.
Eu sinto-me assim. Sinto-me o muro exterior de um poço muito mais profundo, mas que eu ainda estou a conhecer por dentro. Um poço habitado por mistérios e surpresas que ainda não estão ao alcance do meu conhecimento.
Mas, mesmo não lhe conhecendo o fundo, vão chegando à superfície ecos da sua profundidade e muitas vezes a água ondula ligeiramente mostrando que não está parada. O poço está, afinal, cheio de vida.
A vida fora do poço, aqueles a quem vai matando a sede, deixam adivinhar alguns frutos que brotam da água que dele sai... mas só entrando lá dentro, mergulhando cada dia um pouco mais fundo, lá onde está escuro, o poço é mesmo poço. Só lá no fundo eu sou mesmo eu. Porque lá habita Deus.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Aggiornamento



Partir o vidro
e saltar pela janela...

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Obediência



Ser como as árvores
que agitam os seus ramos ao sabor do vento...

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

De que tamanho são, afinal os peixes?


«Um homem, grande especialista em peixes, determinado a investigar o seu "mundo", faz-se ao mar com as suas redes para pescar. Depois de muitas capturas e de análises cuidadas dos peixes capturados ele faz a sua descoberta do primeiro princípio da ictiologia, a ciência dos peixes: "Todos os peixes têm um tamanho superior a 10 centímetros!" Ele toma esta como uma lei fundamental, pois em nenhuma das vezes em que lançou a rede ao mar ele capturou um peixe que fosse de dimensão inferior, procedendo a uma generalização da observação em causa. No caminho de regresso a casa ele encontra-se com um amigo, o qual chamarei aqui de metafísico, e conta-lhe acerca da sua grande descoberta. Este, porém, responde-lhe: "Isso não tem nada a ver com uma lei fundamental! Pois a tua rede é simplesmente demasiado rudimentar, de tal modo que os peixes mais pequenos simplesmente se escapam através das malhas". Mas o especialista em ictiologia não se deixa impressionar por este argumento e responde com determinação: " o que quer que seja que eu não possa apanhar com a minha rede está fundamentalmente fora do saber respeitante aos peixes, pois se trata de algo que nada tem a ver com aquilo que constitui o objecto da ictiologia. Na minha qualidade de ictiólogo o que se aplica é o seguinte princípio: "Aquilo que eu não posso capturar, pura e simplesmente não é peixe!"»

Adaptei este texto de um artigo de Hans-Peter Dürr, Física e Transcendência, que li na Revista Portuguesa de Filosofia. Sirvo-me aqui dele talvez numa perspectiva menos estrita.

Fez-me pensar a atitude deste homem que estava habituado a mexer com peixes, habituado a viver uma vida que ele dominava e a definir as regras da sua investigação. Este homem levava a sério o seu estudo sobre os peixes e escolheu a rede através da qual conduzia todo o seu estudo. E nada de lhe virem dizer que aquele princípio não se podia alterar... nada de insinuar que ele é que podia estar a não capturar bem.. nada de dizer que podiam existir peixes mais pequenos...
Talvez todos nós tenhamos muito de homem dos peixes... Se calhar olhamos o mundo com uma rede muito larga e há muita coisa que nos escapa... E habituamo-nos a dizer, como o homem dos peixes, que o que não posso capturar não é peixe.
Talvez por isso, criámos para nós um princípio que nos deixa satisfeitos com a vida que levamos, um princípio inalterável que nos proporciona segurança, prosperidade e conforto... Um princípio que coloca o nosso potencial e as nossas conquistas pessoais acima de tudo... um princípio que é o único que conseguimos "captar" com a nossa rede...

Uma rede que talvez deixe escapar a espuma do eterno.