terça-feira, 3 de abril de 2012

O estandarte da cruz


Cruz do Mosaico da Ábside
da Basílica de São Clemente em Roma

O estandarte da Cruz proclama ao mundo
A morte de Jesus e a sua glória,

Porque o autor de todo o universo
Contemplamos suspenso do madeiro.


Com um golpe de lança trespassado,
Ficou aberto o Coração de Cristo,
Manando sangue e água como rio,
Para lavar os crimes deste mundo.


Ó árvore fecunda e refulgente,
Ornada com a túnica real,
Sois tálamo, sois trono e sois altar,
Para o corpo chagado e glorioso.


Ó Cruz bendita, só tu nos abriste
Os braços de Jesus, o Redentor,
Balança do resgate que arrancaste
Nossas almas das mãos do inimigo.


Cruz do Senhor, és única esperança,
No tempo da tristeza e da Paixão.
Aumenta nos cristãos a luz da fé,
Sê para os homens o sinal da paz.


Este hino, um dos mais belos cantos à Cruz e à Paixão do Senhor, é uma adaptação para português, feita pelo poeta Fernando Melro, a partir do hino Vexilla Regis (Os estandartes do Rei). Este hino, foi escrito por Venâncio Fortunato, Bispo de Poitiers, e foi cantado pela primeira vez no dia 19 de Novembro de 569, na procissão que levou uma relíquia da Santa Cruz, oferecida pelo Imperador Bizantino Justino II,  de Tours para o Mosteiro da Santa Cruz de Poitiers.

O seu uso litúrgico original, no Missal Romano, era o momento em que, na Sexta-Feira Santa, o Santíssimo Sacramento é levado em procissão para o altar principal. No entanto, actualmente, é principalmente usado na Liturgia das Horas, em que aparece indicado como Hino de Vésperas do Sábado Antes do Domingo de Ramos até à Quinta-Feira Santa e da Festa da Exaltação da Santa Cruz (14 Setembro).

Este hino foi interpretado simbolicamente para representar o Baptismo, a Eucaristia e os outros sacramentos. Os autores antigos dizem que tal como os estandartes dos reis e dos principes do mundo, os estandartes de Cristo são a Cruz, o Flagelo, a Lança e os outros instrumentos da Paixão com os quais ele lutou contra o príncipe deste mundo e venceu.

O esplendor e triunfo da primeira quadra podem ser melhor apreciados se nos lembrarmos da ocasião em que o Hino foi cantado pela primeira vez, em que na pompa e circunstância de uma procissão em que participavam desde os mais ilustres de entre a realeza, aos mais pobres de entre os pobres, um só estandarte se destacava: a CRUZ. Como que a dizer: "Quando Eu for levantado da terra, atrairei todos a Mim."

Aqui fica também a versão em latim:

Vexilla regis prodeunt,
fulget crucis mysterium,
quo carne carnis conditor
suspensus est patibulo.


Confixa clavis viscera
tendens manus, vestigia
redemptionis gratia
hic inmolata est hostia.


Quo vulneratus insuper
mucrone diro lanceae,
ut nos lavaret crimine,
manavit unda et sanguine.


Inpleta sunt quae concinit
David fideli carmine,
dicendo nationibus:
regnavit a ligno deus.


Arbor decora et fulgida,
ornata regis purpura,
electa, digno stipite
tam sancta membra tangere!


Beata cuius brachiis
pretium pependit saeculi!
statera facta est corporis
praedam tulitque Tartari.

 
Fundis aroma cortice,
vincis sapore nectare,
iucunda fructu fertili
plaudis triumpho nobili.


Salve ara, salve victima
de passionis gloria,
qua vita mortem pertulit
et morte vitam reddidit.