sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

De que tamanho são, afinal os peixes?


«Um homem, grande especialista em peixes, determinado a investigar o seu "mundo", faz-se ao mar com as suas redes para pescar. Depois de muitas capturas e de análises cuidadas dos peixes capturados ele faz a sua descoberta do primeiro princípio da ictiologia, a ciência dos peixes: "Todos os peixes têm um tamanho superior a 10 centímetros!" Ele toma esta como uma lei fundamental, pois em nenhuma das vezes em que lançou a rede ao mar ele capturou um peixe que fosse de dimensão inferior, procedendo a uma generalização da observação em causa. No caminho de regresso a casa ele encontra-se com um amigo, o qual chamarei aqui de metafísico, e conta-lhe acerca da sua grande descoberta. Este, porém, responde-lhe: "Isso não tem nada a ver com uma lei fundamental! Pois a tua rede é simplesmente demasiado rudimentar, de tal modo que os peixes mais pequenos simplesmente se escapam através das malhas". Mas o especialista em ictiologia não se deixa impressionar por este argumento e responde com determinação: " o que quer que seja que eu não possa apanhar com a minha rede está fundamentalmente fora do saber respeitante aos peixes, pois se trata de algo que nada tem a ver com aquilo que constitui o objecto da ictiologia. Na minha qualidade de ictiólogo o que se aplica é o seguinte princípio: "Aquilo que eu não posso capturar, pura e simplesmente não é peixe!"»

Adaptei este texto de um artigo de Hans-Peter Dürr, Física e Transcendência, que li na Revista Portuguesa de Filosofia. Sirvo-me aqui dele talvez numa perspectiva menos estrita.

Fez-me pensar a atitude deste homem que estava habituado a mexer com peixes, habituado a viver uma vida que ele dominava e a definir as regras da sua investigação. Este homem levava a sério o seu estudo sobre os peixes e escolheu a rede através da qual conduzia todo o seu estudo. E nada de lhe virem dizer que aquele princípio não se podia alterar... nada de insinuar que ele é que podia estar a não capturar bem.. nada de dizer que podiam existir peixes mais pequenos...
Talvez todos nós tenhamos muito de homem dos peixes... Se calhar olhamos o mundo com uma rede muito larga e há muita coisa que nos escapa... E habituamo-nos a dizer, como o homem dos peixes, que o que não posso capturar não é peixe.
Talvez por isso, criámos para nós um princípio que nos deixa satisfeitos com a vida que levamos, um princípio inalterável que nos proporciona segurança, prosperidade e conforto... Um princípio que coloca o nosso potencial e as nossas conquistas pessoais acima de tudo... um princípio que é o único que conseguimos "captar" com a nossa rede...

Uma rede que talvez deixe escapar a espuma do eterno.

1 comentário:

  1. Hugo,tal como ele também tu escolheste a rede,a rede com a qual tu tão bem sabes pescar...talvez uma rede que deixe escapar a espuma do eterno...mas na qual te dás de coração a Ele...és um dom...Que o Senhor continue a fazer maravilhas em ti!!!

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