sábado, 6 de agosto de 2005

...chegar ao mar!


in O Primeiro Dia, de João César das Neves, Lucerna


«Numa tarde, quando já era muito idosa, a um genro, que protestava contra a política de Pequim, a corrupção dos funcionários e a miséria dos camponeses, Wai disse:

- A nossa aldeia é pobre e triste. A sua maior riqueza é o rio. Mas a única razão porque o rio passa por esta aldeia é porque quer chegar ao mar. A única razão porque o rio passa por todas as terras é porque quer chegar ao mar. É só isso que o rio quer. Só porque quer chegar ao mar é que passa por todas as terras e a todas dá vida. Na sua ânsia de chegar ao mar, faz crescer as plantas, alaga os arrozais, transporta troncos, arrasta a terra fértil, empurra os barcos e as pessoas, refresca os trabalhadores.

Mas o rio nem nota que faz isso, porque está demasiado ocupado noutra coisa. O rio não protesta com as terras por onde passa, não se importa de ser usado, nem liga quando o desviamos, porque o seu único objectivo é atingir o mar.

Sacrifica tudo ao seu propósito único e supremo de lá chegar. Tanto lhe faz passar por verdes prados ou por vales tenebrosos. Ruge nos rochedos escarpados e dorme nas planícies lamacentas, mas a única coisa que lhe interessa é seguir sempre, da melhor maneira possível, para o mar. É só isso que o rio quer.

A única razão por que o rio passa por todas as terras, sem se negar a nenhuma, é querer chegar ao mar.

Por isso, só por isso, é que dá vida a todos.»






Talvez o mais importante desta história não seja o rio... Talvez este rio seja uma pessoa, talvez seja qualquer pessoa... Talvez uma pessoa que ainda não saiba para onde e por que corre... Talvez uma pessoa que não tenha, ainda, ânsia de chegar a lado nenhum...

Ser como o rio é sabermos onde está o nosso tesouro. Ser como o rio, é viver de olhos postos nesse tesouro, orientarmo-nos para ele, sem nos preocuparmos com o tempo, a vida, o esforço, o sofrimento, o bem, as lágrimas e os sorrisos que gastamos até o encontrarmos.

Ser como o rio é dar a vida a tudo por que passamos no caminho.

terça-feira, 2 de agosto de 2005

Para ser grande, sê inteiro

Para ser grande, sê inteiro:

nada Teu exagera ou exclui.

Sê todo em cada coisa.

Põe quanto és

No mínimo que fazes.

Assim em cada lago a lua toda

Brilha, porque alta vive.

Ricardo Reis